20/09/2010

MONTEIRO LOBATO IMPRESTÁVEL


Monteiro Lobato imprestável

Calma, calma, quem disse isso não fui eu. Foi Alberto Mussa, autor de Elegbara, O enigma de Qaf, entre outros. Leia trecho de sua entrevista para o jornal Rascunho. ( Em tempo: minha opinião é a mesma!)

“Em 99,9% dos romances brasileiros, você só chama de negro quem é negro. A quem você não dá a cor, presume-se que é branco. Por quê? Porque você escreve pensando como branco e, o que é mais grave, escreve para um público branco. As pessoas que fizeram a literatura brasileira do século 20 não imaginavam que sua obra pudesse ser lida por negros. Não imaginavam que os negros iriam à escola um dia, que seriam universitários, que seriam intelectuais. Escrevi um artigo sobre Monteiro Lobato que me causou um problema tremendo, porque eu disse que sua obra era completamente imprestável, apesar de ser genial. Tenho um grande amigo que é negro, e sua filha negra estuda numa escola onde pegaram para ler o Monteiro Lobato. E, ali, ela leu que a negra é beiçuda e burra. A Tia Anastácia é caracterizada assim. Aí, me responderam ao artigo dizendo que aquilo era um absurdo, porque, para compreender um livro, eu tinha que contextualizá-lo historicamente. Aí, eu pergunto: você vai contextualizar historicamente um livro para uma criança negra de sete anos, que estuda numa escola de padrão alto onde todos os seus colegas são brancos? Vai pegar um livro que diz que a negra é burra, feia e fedorenta - que é como a Emília se refere à Tia Anastácia - e vai querer contextualizar isso historicamente? Esse livro é imprestável para ser usado numa sala de aula. Ele reforça esses estereótipos. Esse é um problema que trai o nosso racismo. Pegue os grandes autores: José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. Os melhores. Você vai ver, neles, esse procedimento. É o personagem Fulano, o Sicrano e, na hora em que aparece o preto, é "o preto". O preto Alguém. E, dali a pouco, esquece-se o nome do personagem e ele passa a ser só "o preto", ou "o mulato". Não é possível. A gente tem que encontrar outra forma de tratar disso.”

Um comentário:

  1. Passe no meu blog tenho um presente para vc.
    Quero ainda lembrar, como sempre o faço, que fiquem à vontade para acolher o presente, passar adiante ou recusá-lo. Fique à vontade

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