Quilombhoje mandou avisar:
60 ANOS SEM LINO GUEDES
Olhar a estrada que ficou para trás é também descobrir marcas do protagonismo afro-brasileiro ao longo da história.
Ao invés do papel passivo de coadjuvantes a que nos relegam a historiografia e os relatos “oficiais”, em cada ponto dessa estrada redescobrimos uma associação, uma entidade, um militante que deixou marcas que resistiram às tentativas de invisibilização.
Este é o caso do poeta e jornalista Lino Guedes.
Há dúvidas sobre a data de nascimento de Lino Guedes, uns autores dizem que foi em 1897, outros afirmam que foi em 1906.
De todo modo, Lino Guedes faleceu em 1951. Portanto neste ano de 2011 completam-se sessenta anos de seu desaparecimento.
Poeta, romancista, ensaísta, Lino colaborou com vários jornais, dentre eles Diário do Povo, Correio Popular, Folha da Noite e Diário de São Paulo. Atuou na imprensa negra, entre 1923 e 1924 no semanário Getulino, sendo, posteriormente, editor do jornal Progresso. Publicou, dentre outros livros, “O Canto do Cisne Preto” (1926); “Ressurreição Negra (1928); “Urucungo” (1936); “Negro Preto Cor da Noite” (1936).
Dotado do mesmo objetivo de “elevação da raça” que norteia ações de entidades como a Frente Negra, por exemplo, Lino Guedes faz de seus escritos uma constatação lírica das desigualdades e da necessidade de ressurreição moral do povo afro.
Aliás, é interessante notar como num pós-abolição em que eram altos os índices de desemprego e analfabetismo entre a população negra, mostra-se forte a crença na atividade jornalística, literária e educacional como um meio de vencer as adversidades.
Escrevendo majoritariamente poesia, Lino faz do povo negro o personagem principal de seus versos, os quais não negam as atrocidades da escravidão e do racismo, mas transformam o que deve ter sido intensa dor numa experiência estética de superação. Também é recorrente a ideia de que um comportamento moral exemplar é necessário para que a aceitação do negro seja maior por parte da sociedade. Isso faz com que a poesia de Lino Guedes se mostre singela, formalmente distante dos anseios revolucionários de um Solano Trindade, por exemplo, mas a necessidade de expressão por vezes extrapola os limites corretos em que precisa se enquadrar.
Outra faceta interessante é o fato de Lino mostrar a mulher negra em sua poesia de uma forma muito lírica e próxima. É como se pudéssemos visualizar sua Ditinha, lembrando-nos de namoradas, esposas, irmãs, primas, vizinhas....
Lino tem o mérito de trazer o povo negro como protagonista de sua literatura e foi um dos autores que mais publicou.
Seguem abaixo dois poemas:
NOVO RUMO!
Negro preto cor da noite,Nunca te esqueças do açoiteQue cruciou tua raça.Em nome dela somenteFaz com que nossa genteUm dia gente se faça!Negro preto, negro preto,Sê tu um homem direitoComo um cordel posto a prumo!É só do teu procederQue, por certo, há de nascerA estrela do novo rumo!(Negro preto cor da noite, 1936)
DITINHA
Penso que talvez ignores,Singela e meiga Ditinha,Que desta localidadeÉs a mais bela pretinha:Se não fosse profanar-te,Chamar-te-ia... francesinha!
Então, quando vais à rezaCom teu vestido de cassa,Não há mesmo quem não fale,Orgulho da minha raça:– Olha que preta bonitaE que andar cheio de graça!...
Se às vezes sorrio, a esmo,Não me tomes por caduco.Com teu vulto nos meus olhos,Ando como aquele turcoQue, doloroso destino,Ao te ver, ficou maluco...
Ah! Se souberas, Ditinha,Que por sob essa aparenteFrieza, (quem tal diria!...)Eu peço constantemente,A Deus que um dia nos ponhaNuma casinha sem gente...(Dictinha, 1938)
Fontes:
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